No início de 2020, a transformação digital já estava no horizonte ou começava a ser implementada por muitas empresas. Com a pandemia, testemunhamos uma forte aceleração deste processo. Não há um consenso sobre a velocidade da transformação. O CEO da Microsoft, Satya Nadella, por exemplo, afirma que avançamos o equivalente a dois anos em apenas dois meses.
Não faz muito tempo, termos como figital, digitização, shopstreaming, clubhouse, Teams, Zoom soavam incompreensíveis para diversas empresas e profissionais. Hoje, esses e vários outros termos até então insólitos já fazem parte de diálogos rotineiros em centenas de salas de reunião on-line. E se ainda parecem estranhos para você, o que não falta são capacitações e conteúdos sobre transformação digital. Aliás, segundo o último relatório do Fórum Econômico Mundial sobre o futuro do trabalho, 50% dos funcionários precisarão se recapacitar até 2025 por causa da crescente adoção de novas tecnologias.
Primeira lição da transformação digital
Quem faz a transformação digital não são as tecnologias e ferramentas, mas, sim, as pessoas, os novos modelos mentais e a mudança de cultura.
O professor Ruy de Quadros, no Aquário Casa Firjan sobre Caminhos para a transformação digital nas empresas, definiu bem: “a visão de transformação digital ficou muito presa ao conceito de indústria 4.0, entendida como algo primordialmente relacionado à automação e integração baseados em IoT (internet of things ou internet das coisas, em português) e analytics”. E concluiu: “numa visão mais ampla, a transformação digital está primordialmente relacionada ao aproveitamento/descoberta de novas propostas de valor para cliente/consumidor.”
Segundo um recente artigo da Harvard Business Review, sobre a dicotomia entre talento e tecnologia, para a transformação digital ser bem-sucedida e implementada de fato, precisa ser iniciada por uma liderança preparada – mesmo que haja soluções criativas de funcionários para se adaptar à nova realidade digital, como o caso curioso de colegas de trabalho que, para gerar mais engajamento do que nas inúmeras reuniões pelo Zoom, passaram a fazer reuniões no jogo on-line Red Dead Redemption 2.
Segunda lição da transformação digital
Para fazer sentido, o processo de transformação digital deve resultar de uma decisão de negócio. Pode-se decidir focar numa estratégia para fora, com o objetivo de ampliar a presença digital da empresa, suas oportunidades de comercialização, e atingir novos públicos. Para isso, são fundamentais investimentos em marketing digital, plataformas de e-commerce e em cultura de dados para entender melhor o seu cliente. É o caso da estratégia de shopstreaming, em que marcas oferecem aos consumidores uma live que mistura entretenimento, interação, comunidade e compras, é claro.
Alguns cursos do portfólio da Casa Firjan, que conectam desafios de negócios com tecnologias digitais, têm sido cada vez mais procurados. Repensar seu modelo de negócios não é mais uma opção. Em alguns casos, é a forma de sobreviver. Por isso é tão importante buscar capacitações e formas de entender esse meio e introduzir estratégias que dialoguem com as marcas.
“Trabalhava analogicamente, ou seja, com o modo convencional. Veio a pandemia e tive que procurar outros caminhos. Busquei um curso de marketing digital e entendi que o mundo mudou. Percebi que deveria estudar mais redes sociais, expor os produtos e consegui inovar com novos produtos. As vendas aumentaram, adquiri clientes. Aos poucos, estou transformando a empresa de analógica para digital. Essa é uma tendência positiva que não vai retroceder. Hoje é um outro tipo de negócio”, afirma André Sobrinho, diretor da Eurografix e presidente do Sindicato das Indústrias Gráficas do estado do Rio de Janeiro.
O foco da transformação digital também pode se voltar para dentro da empresa, desenvolvendo uma produção mais eficiente e ágil para ganho de produtividade, gerando novas oportunidades produtivas e logísticas, desburocratizando processos administrativos, melhorando a comunicação interna e desonerando funcionários. Neste caso, o investimento precisa ser na digitização de processos organizacionais, administrativos e/ou produtivos.
Este novo termo traduz um processo mais abrangente e complexo do que a digitalização. Enquanto este último significa basicamente transformar dados físicos em digitais, a digitização pode envolver modelos de negócios, processos e rotinas que, inclusive já nascem digitais. Um dos resultados?Tornar-se uma empresa mais atraente para os talentos necessários, que, por sua vez, têm novos valores. Segundo pesquisa da Robert Half realizada em julho de 2020 com 620
profissionais brasileiros, 61% dos entrevistados que estão empregados não aceitariam proposta de trabalho que não incluísse o home office parcial ou total, ou aceitariam apenas se não tivessem escolha.
Terceira lição da transformação digital
O processo de transformação digital não é linear e padronizado. Ele depende da estratégia de negócio de cada empresa e de sua maturidade digital. Ou seja, não existe uma fórmula única para esta implementação
Deve partir de nós, pessoas e empresas, o comportamento em relação à transformação digital, a maneira de pensar, as decisões estratégicas e a capacidade de incorporar as tecnologias de forma mais naturalizada possível. A partir de agora, para lidar com nossos desejos e necessidades, o caminho será figital, ou seja, um mundo de total interação entre o que é físico, digital e social. Estejamos preparados.
Fonte: https://vejario.abril.com.br/blog/julia-zardo/tres-grandes-licoes-transformacao-digital/